sexta-feira, 5 de junho de 2009

Saudades (?) da Amélia...

- Nunca tinha percebido o quanto a música “Ai que saudades da Amélia” é preconceituosa. Depois de ouvir pela milionésima vez no último mês é que percebi o lado “maligno” da música. Foi aí que diversos questionamentos passaram por minha cabeça. Será que a música só fez sucesso por que a sociedade era tão machista? E o pior: por que nós, mulheres, cantamos essa música? Concordamos com esse pensamento machista e atrasado?
Depois de presenciar duas cenas terríveis numa noite de quinta-feira quando estava a caminho de “um momento cultural” – uma jovem sendo arrastada por dois homens e sabe-se lá o que eles iriam fazer com ela depois; e um homem beijando uma mulher à força – fiquei em dúvida sobre a veracidade do estereótipo da mulher moderna que não é submissa.
Cheguei ao ponto de questionar até o meu comportamento. Eu fiquei pensando na maneira que eu falo, o jeito de me vestir e tudo mais. Aí cheguei a uma conclusão: não sou eu que estou errada! Tenho plena consciência do meu papel na sociedade, sei que não devo me submeter a certas situações, então me tranqüilizei (ou pelo menos, tentei).
Passei a ver Amélia com outros olhos, não mais como escrava de um homem, mas sim uma mulher que estava adequada ao seu tempo, encaixada perfeitamente no padrão da época (da música). Que aceitava tudo o que lhe era oferecido, sem questionamentos. Comparei então, Amélia àquela mulher que era beijada à força. O homem não parecia ser um desconhecido da vítima, ou seja, ela também de certa forma estava “aceitando” o comportamento dele. Seria ela também uma Amélia?
Acho que os compositores falharam um pouco quando disseram “ai que saudades da Amélia”, saudade se sente quando não se tem algo ou alguém por perto e na minha concepção ainda existem muitas Amélias por aí.

Amanda Palma

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